quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Entre a cruz e a espada

Semana passada, 395 estudantes de diversos campis da Universidade do Estado da Bahia se reuniram em Salvador para a XVII Jornada de Iniciação Científica da UNEB, evento que reúne todos os bolsistas de pesquisa da universidade. O objetivo era a socialização das pesquisas realizadas nos mais diversos lugares da Bahia e a avaliação das mesmas. 


Mesa de abertura da XVII Jornada de Iniciação Científica
Foto: ASCOM Uneb
O número é mais alto do que o do ano passado, que contou com 380 bolsistas. 

Segundo Leandro Coelho, gerente de pesquisa, na palestra de abertura, o número maior de bolsistas é uma prova do quanto a Uneb vem avançando na área, seja em parceria com as instituições de fomento, como FAPESB e CNPq, ou com o seu próprio programa de bolsas, o PICIN. O gerente ressaltou ainda o fato de as bolsas do PICIN estarem com um valor um pouco mais alto que as de FAPESB e CNPq.

Adriana Mármore, vice-reitora, que compôs a mesa representando o reitor Lourisvaldo Valentim, ressaltou a importância da pesquisa para a formação acadêmica do estudante, por "despertá-lo para coisas que ele dificilmente notaria no seu dia-a-dia como estudante." Ela ainda afirmou que o intuito é fazer com que cada vez mais estudantes façam parte da pesquisa e que as jornadas sejam cada vez maiores.

Quantitativamente, é um avanço sutil, mas que revela uma prática cada vez mais comuns: A pesquisa acadêmica começa a ganhar um espaço cada vez maior na vida dos estudantes, em detrimento de outras ações, como estágios na área, já que, para ser bolsista de Iniciação Científica, esse é um dos principais requisitos: Não possuir qualquer vínculo empregatício. 

Ana Carla Nunes, 21 anos, diz que pensou muito antes de decidir fazer pesquisa exatamente por isso. "Como estudante de jornalismo, que quer seguir carreira na área, fiquei muito em dúvida, porque sabia que a partir do momento em que entrasse na pesquisa, estaria abrindo mão do estágio." Hoje, 1 ano e alguns meses depois, Carla diz não ter se arrependido. "Aprendi muitas coisas na pesquisa que uso diretamente nos meus trabalhos jornalísticos. É uma experiência enriquecedora." 

Diferente de Carla, Fabiana Silva, 24, já entrou na faculdade pensando em seguir pesquisa. "Vim para a Uneb de uma graduação em licenciatura e, por mais que goste do jornalismo, sempre pensei em seguir carreira acadêmica. Dessa forma, tinha consciência da importância que a pesquisa teria nisso, já que é a porta de entrada para o mestrado."

Com dois anos de pesquisa, Fabiana diz já se sentir pronta para o mestrado. Segundo lugar na área de linguística na jornada, a concluinte do curso de comunicação social afirma que os estudantes deveriam ter um melhor olhar sobre a pesquisa. "Acredito que o grande problema é que não há conhecimento da pesquisa. Os estudantes não sabem quais as pesquisas em andamento e achar que abrir mão de um estágio para fazê-la é o fim do mundo. Não é. Você ainda pode se envolver nos projetos de pesquisa da faculdade."

Na mesa de encerramento da XVII Jornada, Leandro Coelho falou com orgulho sobre o evento. "Recebemos o elogio do CNPq. Segundo eles, somos uma das melhores jornadas de iniciação científica do Brasil."

Por: Alexandre Borges

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Campeonato de Futebol Amador de Petrolina: Um baú de memórias

Eram quase sete horas da noite, numa segunda-feira. Aguardávamos nosso entrevistado do lado de fora da sua oficina de refrigeração, em Petrolina. O ex-jogador Louveci Rodrigues dos clubes Petrolina e 1° de Maio terminava mais um dia de trabalho. Depois de apagar as luzes, fechar os portões do seu local de trabalho, Louveci demonstrando cansaço, mas não perdendo a simpatia, nos convidou até sua casa para relembrar seus dias de glória nos gramados do futebol amador e profissional.

Se há uma família que possui histórias sobre o futebol na cidade, sem dúvida alguma é a de Louveci. De 14 filhos, Vé - como era carinhosamente chamado dentro de campo- é o 10º filho, dentre 11 homens, todos jogadores.

Louveci atuou na equipe do América nos anos 1970 (Foto: Arquivo Pessoal)
Assim como Louveci, outros 9 irmãos passaram por times amadores e profissional em Petrolina. Sua família sempre fez parte de equipes de futebol no bairro. Começou no Ferroviário que era o time de sua família, e depois atuou no Caiano, Palmeiras e América que eram os maiores times da cidade na época.

“Eles contratavam os jogadores que se destacavam nos times menores e botavam nas equipes com maior força. Na minha época, quando fui pro América, do meu time fomos eu e mais três jogar lá” relembra.

O fato dos homens da família atuarem no futebol amador resultou num apelido carinhoso para os Rodrigues. Em um dia de jogo entre amigos, Louveci e os 10 irmãos iam juntos para o local de um jogo que os marcaria para sempre.

“Nós temos uma família de 14 irmãos, com 11 homens. Ai tinha os campeonatos em bairros. A gente ia pro Quati, pra Cohab todo mundo junto. Um ficava na casa de um e outro, só andava junto. Num dia alguém falou ‘olha parece um monte de gato, tudo junto’. Esse apelido pegou e só passara a chamar a gente de ‘os gatinhos’".

Lateral polivalente, Louveci jogava em duas posições, mas nos times grandes não teve muita oportunidade e sempre ficava no banco, até a chegada do 1º de Maio, onde foi campeão do primeiro, segundo e terceiro turno.

O período de Louveci na reserva teve fim quando o jogador foi para o 1º de Maio, onde foi campeão absoluto das três fases do campeonato amador.

Campeão absoluto no centenário 

No 1º de Maio Louveci viveu os melhores anos de sua carreira. O ano era 1975, data que marcava o centenário de Petrolina. O modesto time azul e branco se organizava para participar do campeonato amador.

Louveci e as lembranças do período em que era lateral (Foto: Giomara Damasceno)
Ao início da competição, todos apontavam os favoritos Caiano, Palmeiras e Amércia como favoritos, eis que o 1º venceu todas as três fases daquela edição do campeonato. Apresentando um futebol de saltar aos olhos da torcida, o time de seu Louveci jogou de igual pra igual e conquistou o torneio do centenário.

O bom futebol do 1º de Maio naquele ano rendeu jogos com os grandes times de Pernambuco, como o Naútico, Santa Cruz e Sport. Mas Louveci relembra que na sua época de jogador, todo mundo ia pra campo pelo amor ao esporte e não por dinheiro. Os jogadores trabalhavam durante a semana e jogavam aos finais de semana. Havia ocasiões em que os jogos eram fora da cidade e a equipe tinha que viajar.

“A gente jogava no domingo, viajava na sexta de madrugada, passava o sábado descansando. Jogava domingo de manhã cedo ou de tarde. Terminava o jogo só fazia tomar banho, jantar e vinha de lá pra cá. Chegávamos segunda de manhã. Não aguentávamos nem trabalhar. Foi muito sacrifício. Mas, foi gostoso” comenta Louveci.

O ex-lateral atuou por alguns anos no futebol profissional, vestindo as cores do 1º de Maio. Segundo ele, o que atrapalha os clubes da cidade são as pessoas por trás da direção.

“Não tínhamos muito apoio. Os empresários ficavam com receio de investir. Estávamos começando como profissional. Não sabiam se íamos dar certo. Hoje, eles não pagam salários, atrasam cinco, seis meses e nenhum jogador quer ficar sem receber” diz.

Entre as várias lembranças do período em que jogava, Louveci destaca as “aventuras” vividas na estrada. “Teve uma vez que na volta o ônibus quebrou na estrada. Perto de Arco Verde, no meio da noite. Era meia noite ou uma hora da manhã. Aí a gente ficou no meio da estrada. Dormimos no posto. No posto passa muito caminhão. Pegamos um caminhão. Em cima da carga. Só que o caminhão não vinha direto pra Petrolina. Ia descarregar em Santa Maria. Um menino tinha uns trocados, daí pegamos um carro de linha” conta em meio a risadas.

Ainda hoje Louveci joga futebol, mas só entre amigos. A maior parte do seu tempo é voltada para o trabalho de técnico em refrigeração e à família. Avô de um menino de quase um ano, Vé espera poder compartilhar suas histórias com as próximas gerações.

Época áurea do futebol amador 

Outro jogador do futebol amador em Petrolina é Francisco Héldder Viana que jogou há 10 anos. Ele passou pelo time do Petrolina e pelo 1º de Maio e há 15 anos está envolvido diretamente com o futebol amador da cidade.

Atualmente, Héldder é presidente da Liga Desportiva Petrolinense (LDP) – órgão responsável por organizar as competições amadoras na cidade.

“No tempo que eu joguei, a gente via que o estádio estava sempre lotado. As torcidas de todos os times vinham [assistir ao jogo]. Eram do Caiano, América, Palmeiras e de todas as equipes” relembra Héldder.

Fora dos gramados, Hélder não abandonou o futebol (Agência CH)
O período em que Hélder atuou foi o auge de grandes jogadores, os quais inclusive jogaram em times de maior expressão nacional.

“Era um campeonato para revelar jogadores. Na minha época, que foi uma geração muito boa, surgiram grandes nomes que chegaram a jogar no profissional em times da capital” relembra.

Entre as grandes revelações do futebol amador da cidade está Juninho Petrolina. O atacante que teve o auge da sua carreira na década de 90, quando revelado pelo time do 1º de Maio, foi jogar em times como Atlético Mineiro, Sport, Vasco da Gama e Vitória de Salvador. Juninho atuou ainda em clubes de Portugal, como Belenenses, Beira Mar e Penafiel.

Outros nomes citados por Héldder são Ailton que jogou no Atlético Mineiro, Europeu, Ovoredo e Genilson.
Torcida: gerações distintas 

No começo dos anos 2000, o campeonato amador passou por mudanças com a profissionalização do futebol. Na opinião de Héldder a chegada do futebol profissional à região e desorganizou o amador. “O futebol profissional chegou de uma forma tardia e ainda desorganizou o amador, tanto aqui como em Juazeiro [da Bahia, cidade vizinha a Petrolina]. Somente agora que estamos conseguindo dar uma nova cara no futebol amador, para que a gente também possa revelar jogadores para o time profissional da cidade.”

A profissionalização de 1º de Maio e do Petrolina afetou o futebol amador de tal forma que entre 2005 e 2010, o campeonato amador organizado pela LDP ficou interrompido, sendo retomado apenas em 2011. Nesses cinco anos, o futebol profissional cresceu em incentivo da mídia local e de patrocinadores, deixando o amador na reserva.

Com a retomada do campeonato amador, a Liga Desportiva Petrolinense mantém os 9 clubes filiados desde sua criação: Caiano, Palmeiras, Flamengo, Ferroviária, 1º de Maio, Petrolina, América, Santa Cruz e Náutico.

Mas com a profissionalização do futebol, dois times despontaram. Até hoje a rivalidade entre o Petrolina e o 1º de Maio é grande. Segundo Héldder, um torcedor do 1º de Maio, no inicio de uma partida entre o Azulino e a Fera Sertaneja invadiu o campo e começou a abraçar o time. O torcedor apaixonado quase foi preso.

Tal fato ocorreu pela torcida do 1º de Maio ser “mais fiel e apaixonada, além de ser em maior número naquela época.”.

Tanto Louveci Rodrigues e Francisco Héldder tem um desejo em comum. Que o futebol amador não caia no esquecimento. “Isso faz parte da história. Os jogadores de hoje estão ai, viajando em ônibus com ar condicionado, enquanto a gente viajava naqueles sem condição. As pessoas não podem se esquecer do que fizemos” desabafa Louveci.


Por: Alieny Silva, Giomara Damasceno, Maria Akemi Yamakawa

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Fora da Sala de Aula e do Facebook

Editorial

O jornalista Geneton Moraes Neto, ao definir para a revista “Pensamento” as dez coisas que aprendeu sobre ser jornalista, reproduz a famosa frase da Primavera de Praga:

--- Acorda, Lênin: Eles enlouqueceram!

Só que modifica a expressão para:

--- Acorda, Gutemberg: Eles enlouqueceram!

O que o jornalista quer dizer é que é possível fazer jornalismo vivo, criativo, interessante e que não se pode deixar os dinossauros das redações acabarem com os sonhos de quem acredita nessa forma de jornalismo. Dentro desta questão e entrando também no ambiente acadêmico, o conselho de Geneton Neto também pode nos fazer pensar sobre a necessidade de que o jornalista em formação (aluno do curso de jornalismo) precisa se desconectar dos referenciais teóricos ou de pensamento interesseiro (estágio) para compreender o jornalismo em sua prática, ultrapassando as portas da universidade e aplicando tudo o que viu, ouviu e produziu em meios de comunicações reais, que fazem parte da sua realidade.

Essa iniciativa da visita de acadêmicos aos meios de comunicação deve ir além da observação e entrar no campo crítico, questionador e pensante. E foi dessa forma que os alunos do sétimo período do curso de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios da Universidadedo Estado da Bahia (UNEB) realizaram nesta segunda-feira (28) uma aula-visita à sede da Tv Grande Rio em Petrolina. Os alunos, na semana passada, também visitaram a Tv São Francisco, que está localizada em Juazeiro.

O motivo principal da visita era conhecer como funcionam os setores que fazem parte do jornalismo da emissora e também dialogar tudo que foi aprendido em sala com os responsáveis pela programação. Na oportunidade, o diretor de jornalismo, Elizandro Oliveira, apresentou, tirou dúvidas e respondeu aos questionamentos da turma de cerca de 20 alunos e da professora responsável pela disciplina, Fabíola Moura.

Um dos assuntos abordados e que tem relevância especial para este blog, diz respeito ao uso das redes sociais na produção das pautas da emissora. É inegável que estamos na era do repórter multimídia, do produtor multimídia, do jornalista sentadodo analista de redes sociais, dos blogs, comentários, twitter Facebook. No entanto, a discussão sobre o uso dessas ferramentas ainda gera polêmica e beira até a discussão sobre a própria indolência do repórter ou produtor. Seriam os dinossauros aos quais Geneton se referia? Dificuldade de adaptação? Nada disso? Só os consumidores dirão. Porque jornalismo é feito para o povo e pelo povo. E se o povo clama por Facebook?



Imagens: Lícia Loltran

Fotos da visita da turma do 7º período da UNEB à Tv Grande Rio





sábado, 26 de outubro de 2013

Petrolina é destaque na geração de empregos

Além do destaque na fruticultura irrigada Petrolina conta atualmente com um número representativo nos indicadores econômicos nacionais ocupando 24ª posição nacional em geração de emprego.O Vale do São Francisco que é conhecido mundialmente por ser um dos maiores polos de fruticultura do Brasil, com uma produção irrigada que teve inicio na década de 80 e rendeu ao Vale o patamar de maior exportador de uva e manga do Brasil. 
Califórnia brasileira continua surpreendendo
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho, Caged, no mês de junho de 2013, a cidade de Petrolina foi a primeira colocada do ranking com 2.039 empregos com carteira assinada.

Como já era esperado o setor com maior crescimento foi o de agronegócio mais de 3.735 admissões, Petrolina exporta hoje 92 % da manga e 95% da uva produzida em todo país. 

"Petrolina hoje está em uma posição privilegiada, porque além das rodovias, possui um aeroporto internacional de cargas e está a 1h, via aérea, das principais capitais brasileiras do nordeste, tornando-se uma grande centro de distribuição. Este fato atrai grandes empresários que investem cada vez mais na cidade. 

Serviços e agronegócio são os setores que mais cresceram, possibilitando um aumento na geração de emprego e renda no município. Somente no mês de setembro foram 6.095 admissões”, salienta o secretário de Desenvolvimento Econômico e Eventos de Petrolina, Jorge Assunção.

Por: Alieny Silva

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A maldição da tecnologia

Artigo de opinião

Não é de hoje que fico incomodada com atitudes de algumas pessoas – sejam amigos ou não. É mais importante dar atenção freneticamente (e até mesmo INSANA) ao smartphone? E a pessoa que está ao seu lado numa mesa de bar, ela não merece atenção?

Brasil tem 270 milhões de usuários dos
smartphones, mas falta senso de alguns
usuários (
Foto: portaldepaulinia.com.br)
Não condeno a tecnologia, pelo contrário. Tenho como opinião que todos os avanços são resultados da curiosidade humana em sempre ir além do que está ao nosso alcance. Porém (vai um grande porém aqui) encaro como absurda essa atitude de ignorarmos as pessoas ao nosso redor para conversarmos com elas nos chats e SMS (mensagens de texto).

Pense comigo: você está numa mesa com seus amigos, resolvem botar a conversa em dia e alguém não consegue tirar o olhar (e os dedos) do smartphone. Essa pessoa não consegue nem olhar nos olhos dos amigos, não observa a roupa que eles usam, o que eles pediram e o que comeram. Isso incomoda e muito.
De acordo com a empresa norte-americana de segurança móvel, Lookout, os yankees estão cada vez mais ligados ao amigo smartphone e esquecendo de viver. 


Apesar do bom senso, muitos não seguem a regra do
 "Não envie mensagem ou cheque seu celular quado es-
tiver conversando com as pessoas" (Foto: O Globo)

Segundo a matéria divulgada pelo Diário de Pernambuco na manhã desta quinta-feira (24), 63% dos americanos participantes da pesquisa consultam seus aparelhos telefônicos de forma compulsiva, de hora em hora.

Se essa pesquisa fosse realizada no Brasil, não tenho dúvidas de que os números seriam maiores. Já mostramos sermos superiores aos norte-americanos no quesito Orkut, Facebook e porque não no smartphone?

Eu não me incluo nessa categoria de obcecados em aparelhos móveis. Utilizo para ligações, consultar e-mails, acessar redes sociais e trocar mensagens de texto. Mas não abro mão da conversa olho no olho com os amigos, do abraço e aperto de mão, do calor e do afeto da conversa pessoal. Sou daquelas que utiliza os dedos frenéticos para guiar minha mão em direção a do amigo e cumprimenta-lo com um forte aperto de mão e um abraço.

Por: Maria Yamakawa

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Entrevista: Maestro Spok, da Spok Frevo Orquestra



 
Foto: Cátia Regina
Tímido, de fala mansa, cordial e gentil. Organizando o tempo entre uma entrevista e outra, ele atende a todos. Um a um, com toda sua simpatia pernambucana. Este seria outro dos seus adjetivos, pernambucano. Em toda sua fala, deixa claro o orgulho de ser "um leão do norte". A mistura de sons, as turnês internacionais, os atuais e futuros trabalhos, são alguns dos assuntos que o maestro Spok aborda aborda nessa entrevista. 

Como surgiu a ideia de juntar o jazz com o frevo?

Na verdade, não ouve uma intenção de misturar o frevo com o jazz. E eu até entendo que a gente faz Jazz, mas jazz no sentido de liberdade de expressão, não no sentido de música americana. Porque para mim, o jazz já deixou de ser música americana há muito tempo. Então a gente faz um frevo onde os músicos tem uma liberdade de expressão. E essa vontade veio porque nós nascemos e nos criamos nas ruas e ladeiras de Recife e Olinda. E por tocarmos nas ruas. A dança e a folia, a manifestação de carnaval sempre esteve à frente da música. A música acaba sendo uma trilha sonora para que as pessoas possam pular e se divertir. Eu amo tocar nas ruas, amo tocar paras as pessoas pularem e se divertirem, principalmente para as pessoas daqui, de Pernambuco e da minha cidade que é Recife. Mas, é como músico que eu falo, isso sempre me incomodou. As pessoas não prestarem atenção no que a gente tá tocando. Mas de alguns anos pra cá, tem sido  sensacional, também como músicos, a gente tocar essa mesma música que tocam nas ruas, para as pessoas dos palcos, nos teatros consagrados do Brasil e do mundo. As pessoas acabam falando que esse frevo que a gente toca é um frevo jazzístico, e entendo no  sentido de liberdade de expressão. Só. E não por ser música americana.

De onde surgiu esse nome: Spok?

O nome Spok é de ginásio. Surgiu quando eu fazia a quinta série na minha cidade em Abreu e Lima e eu fazia isso aqui (mexe as orelhas). E eu ficava mexendo a orelha quando o professor explicava alguma coisa. E um amigo brincalhão, gaiato, sentado atrás de mim observou. E na época passava um seriado chamado “Jornada nas Estrelas” e ele disse “Ei, boy, tu só quer o Spok”. Depois disso ele passou a me chamar. E alguns amigos foram me chamando também, até que hoje posso dizer que virou meu nome.
Meu apelido passou a ser meu nome. Pois, quando estou estressado na orquestra os meninos brincam comigo dessa forma “Eita, chegou seu INALDO” que é meu nome. Então Inaldo passou a ser meu apelido. Me sinto bem, me sinto feliz. Pelo menos não deu azar. 




E como o público recebeu no início essa mistura, esse frevo diferente?

Foto: Cátia Regina
No inicio foi muito complicado com os estudiosos, os puristas de nossas músicas, por exemplo. Alguns deles não achavam que achavam que a gente estivesse fazendo frevo. E sinceramente, eu entendo todos eles. Concordo com a maioria dos questionamentos. Porém, nós temos nossas intenções com o frevo e com a música. E a gente acha sim, que faz frevo. A única diferença é que a gente faz solos e todos os arranjos são voltados para o musico solar. A nossa intenção é fazer frevo para as pessoas escutarem e não necessariamente dançarem. No carnaval a gente faz o frevo tradicional como ele é. Pois, durante o ano, fora do carnaval, a gente vem realizando esse frevo voltado para o teatro. Tanto que todo mundo se veste de paletó e gravata.
Hoje em dia é tudo mais tranquilo, apesar de eu entender e saber que eles continuam com a mesma opinião. Mas quero deixar bem claro que eles estão certos também. Mas nós temos nossos sonhos e a gente não pode deixar de tentar e corre atrás de realiza-los. E a gente vem realizando.

Quais as influências, além do jazz, da Spok Frevo?
Nós somos pernambucanos, então toda nossa influencia é da música de Pernambuco primeiro: Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jacinto Silva, Nelson Ferreira, Livino Ferreira, Glaudionor Germano, Espedito Paracho... Toda a música de Pernambuco. Os repentistas são meus maiores ídolos, os poetas populares. Eu gostaria de ter sido um, mas Deus sabe porque não dá asa a cobra, eu acho. Então, todos eles me influenciam muito. Saindo dai, Severino Araujo, Felinho, toda a Orquestra Tabajara, orquestra Banda Mantiqueira. Saindo do Brasil, Todas as orquestras americanas: Glenn Miller, Tommy Dorsey... Mas a principal influência é Pernambucana e a musica brasileira.

Você falou em Dominguinho, ele compôs uma música que ele que está na turnê de vocês. Como se dá essa relação, vocês fazem alguma homenagem?
Eu cheguei a ficar amigo de Dominguinhos nos últimos anos de sua vida. Eu sempre fui louco para ser colega dele. E uma vez, ele precisou de mim. Ele me ligou e eu não acreditei que ele estava ligando. Foi uma emoção muito grande. Ele me pediu pra fazer um arranjo de um frevo para a filha dele, Liv Moraes.  E nós estreitamos os laços por causa disso, porque ele foi também gravar. Eu escrevi e ele gravou. A gente passou dias se falando e a gente passou a tarde inteira de gravação se falando, foram momentos especiais em minha vida. E ele ficou de participar do nosso disco, sendo que depois de alguns meses ele sempre que me via dizia “Spok cadê a gravação? cadê a gravação?”. E no momento de gravar, ele teve uma piora e foi internado e não saiu mais do hospital. E esse frevo que a gente gravou é um frevo que eu me apaixonei por ele desde o dia que o ouvi há décadas atrás. E hoje a gente realiza um sonho também de ter gravado esse frevo. Que na época que eu ouvi eu não tinha gravado e eu gostaria muito de ter gravado. E poder ter realizado isso hoje foi sensacional, poder registrar esse momento para a eternidade. Salve, salve mestre Dominguinhos!


Vocês recentemente fizeram em turnê pela Europa e foram bem conceituados pela mídia internacional, o que mudou depois desses shows?
Foto: Cátia Regina
Há cinco anos a gente sempre faz turnê pela Europa no verão. Em junho, julho, a gente vai para a Europa. Ai, no meio do ano entre junho e dezembro a gente volta e depois vai para os Estados Unidos.  Tudo isso é por causa da seriedade, porque é muito trabalho em preparar uma musica que o mundo ainda não conhece. De uns cinco anos pra cá, a gente vem ajudando que o mundo conheça esse som. As pessoas que vão para esse tipo de festa que a gente toca, são os apreciadores da musica instrumental, são os músicos, as escolas de música, os festivais que a gente participa tocando frevo e são sonhos que não param de serem realizados. Essa ultima turnê foi mais um sonho, ano que vem temos mais duas turnês confirmadas em junho e julho pela Europa em julho pelos Estados Unidos dando oficinas e workshops pelas universidades e tocando ao lado de músicos que a gente só conhecia por vídeos e tal.

Depois dessas turnês pela Europa e pelos Estados Unidos, a mídia tem reconhecido mais o trabalho de vocês, aqui, no Brasil?
Eu acredito que sim, porém o que a gente trabalha é com a musica instrumental. Então o publico ainda é restrito. Há músicos, há pesquisadores. Ainda não é um público que escuta o rádio, por exemplo. Nos não atingimos esse publico ainda. Mas dentro desse universo, dos que curtem a musica instrumental, nosso trabalho tem repercutido de uma forma muito feliz. E estar aqui hoje, por exemplo, no SESC de Petrolina, falando sobre frevo, tocando frevo,  é uma mostra disso. De que nosso trabalho está andando e as pessoas estão ouvindo e querendo entender  mais. Fico muito feliz por fazer parte desse momento. Nosso trabalho vem andando e estar aqui, fora do período de carnaval, é uma prova de que isto vem acontecendo de uma forma feliz.

O frevo ainda é muito restrito a Recife e Olinda. O que falta para o frevo se tornar uma musica do ano inteiro?
Eu posso falar com propriedade sobre musica instrumental. Eu posso te dizer que eu trabalho com frevo todos os dias da minha vida. Eu não necessariamente toco  frevo todos os dias. Mas penso em frevo todos os dias. Eu alcancei uma fase que eu só trabalhava quatro dias por ano com o frevo. E hoje é sensacional trabalhar com frevo todos os dias. Então a nossa orquestra, passa o ano inteiro trabalhando. Mas é um frevo instrumental. Porém as outras modalidades de frevo, como o frevo canção e o frevo de bloco. Eu acho que ainda, de uma forma geral, acontecem só no período de carnaval e algumas semanas antes, no período pré-carnavalesco. Porem, vários novos compositores e vários artistas andam trabalhando seriamente com essas modalidades, de frevo canção e de bloco,  para que elas possam também andarem por outros lugares e  possam ser apresentadas fora do período de carnaval. Mas isso é um processo de médio e longo prazo, não só para o frevo canção e de bloco, mas também o frevo de rua que é o frevo que a gente trabalha. E ai entra todo um sentido de escola, que aos poucos vem acontecendo.

O Nordeste é retratado muito pela mídia pelo estereótipo da pobreza e da miséria. Você fazem algum trabalho para quebrar essa visão afora do país e também no país?
O nordeste é tido como de muito folclore. Pernambuco por exemplo, é um país de muito folclore. E coloco também o frevo, o caboclinho, maracatu, a ciranda as bandas de pífano. Sempre me incomodou aquele olhar de quem é de fora, principalmente aquele olhar de folclore. Aquele olhar de “Ah que bonitinho isso, que engraçado”. Não, a gente procura fazer o nosso trabalho da forma mais séria e profissional possível para que isso não seja só bonitinho.  O  que a gente faz é música, a gente faz um trabalho muito sério. A gente ensaia muito para que isso possa acontecer. E acredito que esse trabalho sério, com o máximo de dignidade possível. Mostra um pouco para as pessoas que ninguém é coitado, ninguém é miserável, ninguém faz folclore. Tem tudo isso, mas também é uma coisa muito séria que está sendo feita. E posso dizer que de Chico Science é um divisor de águas também, com a seriedade de nossas coisas. Com a seriedade de que é possível beber do que é de fora, mas sem perder a alma e sem necessariamente fazer folclore, sem ser coitadinho ou miserável. É coisa muito séria. 

Foto: Cátia Regina


Quais os novos projetos da Spok Frevo?
Vou colocar três principais. Primeiro vou colocar o nosso disco que a gente tá lançando daqui a dois meses, “Ninho de Vespa” que é uma composição de Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi. Uma composição que mudou minha vida, quando ouvi uns 18 anos atrás. Me encantei por esse frevo e ele me abriu uma grande janela de possibilidades com o frevo. E a minha emoção aumentou quando ele fez uma participação especial, há uns 20 dias e mandou a participação dele dessa mesma música, “Ninho de Vespa”.  É uma composição dele com Cesar Pinheiro.  O outro projeto é o longa/doc. De 1h40            ‘ que já está editado, a gente só está finalizando cor, áudio e as legendas. “São sete corações” o nome do longa/doc. Que conta a história de sete mestres vivos do frevo, sete maestro, compositores que não tem mais as suas orquestras. A gente conseguiu reuni-los para um documentário importantíssimo para a história da música brasileira. Para você ter ideia, entre um deles há um de 91 anos, e o frevo tem oficialmente 106 anos, então são mestres que por muito pouco não fazem parte da primeira geração da história dessa música. Isso é uma coisa muito séria. Frevo que é a única música genuinamente instrumental brasileira para orquestra e é única instrumental brasileira com o choro. E isso tem muita importância. É a maior realização da minha vida até hoje.
 O outro, que é outro grande sonho, que é o Instituto Passo de Anjo. Já conseguimos comprar uma casa onde será uma escola voltada para a música, a dança, a percussão pernambucana. Queremos trabalhar 90% as coisas de Pernambuco, os mestres de Pernambuco e 10% voltada para o Nordeste.
E tem também o outro sonho que é trabalhar com o universo junino, onde  a gente vai estra lançando também no primeiro semestre do ano que vem um dvd com a orquestra Forrobodó, onde a gente tem a participação de grandes músicos brasileiros como Fagner, Elba Ramalho, Santana, Maciel Melo, Delson, Genaro... É um dvd gravado em preto e branco, muito elegante. Esses são os quatro projetos que vamos lançar ano que vem.

Giomara Damasceno

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um e Um precisa ser dois?



Artigo de Opinião.


Segundo a definição usual, estereótipo é a visão preconcebida de uma coisa ou pessoa. Aquele pré-conceito que criamos a respeito de algo ou alguém devido as ideias que nos foram previamente passados ou ao que o tal “objeto” transmite. Se é negro, é bandido. Se é gay, é pervertido. Se é branco, é rico e chato. Se é nerd, é antissocial. E por aí vai. A lista cresce, sendo alimentada, dia após dia, graças as normas e ideia estabelecidas por uma sociedade que preza cada vez mais a padronização.

Pesquisas recentes apontaram que os jovens costumam mentir sobre sua vida sexual a fim de se encaixar no que é considerado “normal”. E é possível estender tais resultados a outras áreas também. Quem nunca pensou em ocultar uma informação ou distorcer a mesma apenas para ser “aceito” em uma roda de conversa? Ou para agradar outra pessoa, que às vezes nem lhe conhecida é. Clube da Luta, aclamado filme do diretor David Fincher, chama a atenção para isso ao construir um roteiro sobre a necessidade de consumo e de aceitação. “Nós compramos coisas que não precisamos com o dinheiro que não temos para agradar gente que não gostamos.”

A reflexão não é gratuita. 



Dia desses, conversando com uma amiga recente, de cerca de 1 ano, que ela ficou chocada porque me viu bebendo cerveja e cantando e dançando música de samba. O mais engraçado é que não foi a primeira vez que me falaram isso - e certamente não será a última. A explicação é sempre a mesma: É meio chocante ver alguém assumidamente dito nerd saber esse tipo de música e sentar num bar pra beber.

Então, eu sou nerd, sim. Nunca neguei isso. Metade do meu guarda roupa é de camisas de super herói, tenho uma estante cheia de livros e algumas revistas em quadrinhos, além de boxes de séries e filmes. Cresci jogando Pokémon, Super Mario e Resident Evil. A maioria dos meus papos no dia-a-dia está ligada a uma dessas vertentes e eu troco fácil uma festa na sexta a noite pelo meu computador, abastecido de novos episódios, seja lá do que for.

Mas por que um nerd não pode ouvir música de samba e tomar cerveja? Nessas horas, quando saio com meus amigos, me dou a total liberdade de beber (claro que no limite) e de cantar e dançar o que estiver tocando na hora - o que, considerando a região, é quase sempre forró ou pagode. E acho que em momento nenhum isso deveria ser um choque, só porque não está de acordo com o "estereótipo" a que eu teoricamente me enquadro. Não quero ser mais uma estática. Não quero estar rotulado e preso a algo pelo resto da minha vida.

Estereótipos existem para serem quebrados.

E então eu vou continuar usando minhas camisas de super herói e filmes, lendo meus livros de fantasia, assistindo meus seriados e meus filmes e também sentando com meus amigos pra tomar uma cerveja e dançar e cantar o que estiver tocando, seja música eletrônica, forró, samba ou funk. Porque a vida é muito imprevisível pra gente ficar se prendendo a regras pré-estabelecidas.

Alexandre Borges

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A busca por espaço no trânsito



 
Ciclistas enfrentam luta diária por espaço (Foto: euvoudebike.com)
Seja em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, as bicicletas figuram entre carros, motos e ônibus. A disputa por espaço é digna de Davi contra Golias e quase sempre, as “magrelas” – como as bicicletas são chamadas – levam a pior

O boom das bicicletas é reflexo da onda de sustentabilidade e conscientização sobre os meios de transportes limpos. Somado a isso, o ao alto custo da manutenção dos veículos automotivos e ao trânsito cada vez mais caótico. A frota de bikes no Brasil já é a sexta maior do mundo, segundo dados da Secretaria de Transportes Urbanos. 

Juntamente com o aumento do número das bicicletas no país, houve também elevação no número de acidentes e mortes. Entre 2001 e 2010, foram registradas mais de 500 mortes com ciclistas em Pernambuco de acordo com um estudo realizado na Universidade de Pernambuco (UPE). 

Com as magrelas entre ferozes motocicletas e carros, os ciclistas se apequenam e vivem a insegurança no trânsito. “Falta espaço para nos locomovermos com segurança. A faixa de ciclovia que tem na cidade não é suficiente para quem utiliza bicicletas. Quase sempre tenho que dividir espaço com carros e motos para chegar ao trabalho” afirma o auxiliar de escritório, Ivan Yamakawa de 26 anos.

Petrolina possui ciclovias – espaço destinado ao tráfego de bicicletas - na Avenida da Integração, Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio e Orla, mas segundo os ciclistas, o espaço não é suficiente para garantir uma pedalada segura.

Ciclovias são limitadas e abrangem circuitos limitados (Foto: Gazzeta)
 
A estudante de Medicina, Mariele Nascimento, de 21 anos vê na bicicleta a melhor forma de locomoção para a faculdade. “A passagem de ônibus está muito cara, vi na bike uma forma de ser mais saudável e de economizar dinheiro. Sinto medo quando tenho que andar fora da ciclovia e atravessar avenidas, porque não há sinalização adequada nesses lugares.”

Os desafios e medos são compartilhados com quem utiliza as bikes para a prática esportiva. “Usamos os equipamentos de proteção e equipamos a bicicleta, mas muitas vezes as pessoas não nos respeitam. Geralmente pedalamos à noite e é mais perigoso ainda. Temos que contar com a sorte” revela João Moreira, 21, estudante de Educação Física e ciclista amador.

A insegurança dos ciclistas é uma consequência da falta de uma legislação eficiente sobre esse assunto e elas não são homogêneas. Recife possuiu uma, São Paulo outra...enquanto em Petrolina não há. 

Maria Yamakawa